Felinos e ervas daninhas

गायत्री — Fer;
2 min readApr 18, 2021

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las venas. 50mm, registro direto do jardim. Acervo pessoal.

Como num estalar de dedos me dou conta da altura de algumas ervas daninhas, novembro choveu quase todos os dias e também fez muito sol, anunciando a ideia de um verão. Isso fez com que tudo crescesse de forma exuberante

No jardim durante a noite surgem os seres encantados, de lírio em lírio, fazendo a festa e nos presenteando com belas flores ao redor

Todos os dias olhei através da janela, mas foi somente no domingo que observei com tamanha presença. As plantas cresceram, há novas espécies manifestadas, há também um ninho de abelhas dentro do tronco da árvore caída. Há até mesmo um novo visitante.

Olhei-me no espelho, exercitando me auto reconhecer, uma tarefa simples para algumas pessoas acostumadas com a autoimagem. Meu cabelo cresceu muitíssimo, minhas olheiras também. Mas também cresceu a minha ousadia, a libido.

Reclamei o mês todo do felino que esteve todos os dias chorando em baixo da minha janela e afugentado quando tentava me aproximar.

Estive tão fora da presença que apenas um mês após tê-lo observado no decorrer do dia a dia, curiosamente após um ano dividindo o mesmo jardim com o meu vizinho, foi assim que notei: uma conversa tocando sobre o felino que chora e sai correndo, se encolhe entre as plantas, nos olha assustado. Foi aí que percebi o quanto de mim havia nele.

Eu sentada na minha poltrona, a coluna tornando-se o seu formato, as lágrimas escorrendo sem serem convidadas e o teto acima de mina cabeça guardando as lamúrias e as súplicas dos domingos.

O que há de felino ferido em mim?

A minha aparência de quem está perdido, pede colo mas sente medo em aproximar-se.

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गायत्री — Fer;

Maldito seja aquele que se julga livre para redefinir segundo seus próprios termos a maneira com o que o ‘outro’ habita este mundo. Isabelle Stengers.